Em um dia não tão qualquer, após uma sequência de
coincidências nada coincidentais, minha versão do passado deu o primeiro passo
daquela encruzilhada. Agora aqui estou
E bom, tudo realmente estava lá. Ou melhor, aqui.
Em um dia não tão qualquer, após uma sequência de
coincidências nada coincidentais, minha versão do passado deu o primeiro passo
daquela encruzilhada. Agora aqui estou
E bom, tudo realmente estava lá. Ou melhor, aqui.
A última vez que fiz um café naquela xícara que quebrou ou
que deitei naquela parte que bate sol às 15h da tarde de um domingo primaveril na
minha sala. A última vez que abri aquele caderno esquecido, que comi aquele
doce que pararam de vender, que usei aquela caneta que perdi. A última vez que
ouvi aquela música, que dei um abraço naquela pessoa querida, que beijei o meu
primeiro amor. A última vez que ouvi meu nome saindo dos seus lábios, a última
vez que...
Sentada ao lado daquele forno, sentindo o calor do fogo em
minhas mãos, eu não tinha noção do tamanho da preciosidade daquela cena. Me
apego a lembranças por ser tudo o que me resta, mas e se um dia for a última
vez que eu me lembrar delas?
Me apeguei a memórias de uma vida, sem imaginar que um dia
seria a última vez que eu me lembraria delas. Se somos nossas lembranças e
nossas vivências, o que nos tornamos quando elas nos abandonam?
Vai haver um dia em que talvez meu nome não soe familiar.
Ainda serei eu?
O cômodo não é novo, já estou aqui a algum tempo. Mas sempre esteve vazio assim? Eu verdadeiramente não sei dizer. Olhando agora, vejo o paradoxo de sentir que aqui já esteve cheio de móveis, luz e momentos, ao mesmo tempo que parece que sempre esteve assim e só agora parei para notar.
Lembrei que um dia o chão já rangeu. Não ouvi nada hoje. É difícil lembrar que algo existiu quando não acontece a tempos.
Era pra eu me sentir em casa em algum lugar?
Sempre no meio termo, no meio do caminho, no meio do conflito. Uma vida morna por medo de lidar com os extremos.
A apatia dói mais do que a tristeza.
Por um momento desejei ter uma mãos nas minhas, mas me dei conta de que seria apenas um jeito fácil de depositar toda essa minha falta em alguém. Ao mesmo tempo que quero ouvir o som da campainha, não quero receber visitas.
Eu não tenho motivos para estar assim, mas dói. O nada dói, e muito.
Te vi. Você me viu. No escuro, nossos corações se sentiram.
Te puxei para dançar, e você entrou nessa comigo. Olhares intensos, sentimentos a mil. Com você o ritmo era leve, me senti viva como nunca. O salão ficou mais colorido, as luzes mais vivas, meu sorriso mais sincero e genuinamente feliz.
Mas você se foi antes da primeira música terminar, e me vi obrigada a reaprender a dançar sozinha enquanto a música ainda tocava ao fundo.
Os primeiros passos são sempre os mais dolorosos, eu sei. Aos poucos retomo o ritmo e relembro de como era um passado sem você.
Eu não te culpo, e no fundo sei que era melhor assim. Mas ainda dói.
O baile definitivamente não é o mesmo sem você, mas estou sobrevivendo.
Saiba que te guardarei com carinho entre um verso e outro da canção. Guardei em mim o sentimento, e o toque das nossas mãos.
Enquanto eu olhava nos seus olhos, o sol se pôs milhares de vezes sem que eu pudesse notar. Eu amo o pôr do sol, já te disse isso? Mas sempre tenho medo do depois.
Irônico eu amar ver a luz ir embora, e ter tanto medo da escuridão. No fundo, acho que eu gosto do "quase". Aquele tom de verde quando os raios amarelos batem. Aquele sol que toca minha pele, mas não queima. Entre tantos anoiteceres, você foi meu "quase" preferido.
Na última noite, quando fui engolida pela escuridão, percebi que perdi minha luz por aí. Não sei exatamente onde, e nem quando. Talvez entre um pôr do sol e outro, talvez entre um "quase" e outro.
Essa tal jornada deveria ser sobre mim? Acabo de perceber que nunca assisti um pôr do sol sozinha, bom, ao menos não intencionalmente.
Esse texto não é sobre você. Nunca foi. É sobre mim. Um lembrete para que eu comece a ver também os amanheceres.
Vejo seus olhos da multidão. Milhares de palavras se cruzam no silêncio.
Apesar de toda essa plateia, aqui segue tendo só eu e você.
Tal como facas afiadas, sua indiferença fere meu peito. Dilacera minha alma, minha autoestima e toda a certeza do que já fui um dia.
Graças a você, vermelho se tornou minha cor. Você disse que combina com meus olhos, e eu sorri, deixando de lado cada centímetro do meu corpo que latejava e implorava por socorro.
Diferente das outras vezes, dessa vez te vi além. Não sei dizer se doeu um pouco mais ou um pouco menos. Ver o todo às vezes é mais assustador do que se contentar com os detalhes. Eu gostava de inventar o resto, sabe? Criar mil juras que jamais saíram da sua boca. E que jamais irão sair.
Mesmo no escuro eu te vejo e sei que você me vê. Eu te sinto, mesmo não querendo sentir.
Através do pequeno feixe de luz que atravessa teu casaco, te completo. Crio diálogos dentro da minha cabeça, e tal qual como todas às vezes em que discutimos, converso comigo mesma. Acho que nem conheço sua voz, mas saiba que inventei uma bem bonita para você. Na verdade, te inventei inteiro.
A cortina desce lentamente, enquanto me despeço de tudo aquilo que jurei ser um dia. Não sei quem sou sem você, mas talvez esteja na hora de descobrir.
Fim do primeiro ato.
Cabem tantos mundos em um colchão... Conversas e silêncios, abraços e distâncias, dores e aconchego. Eu e você. Dois mundos tão distintos e singulares. Diferente do que dizem alguns contos sobre o amor, não nos tornamos um só. Se já somos inteiros, como poderíamos nos completar? E nisso, viramos dois mundos ainda maiores.
Seu braço transpassa meu corpo, seu corpo transpassa minha alma. Entrelaço-me em você.