domingo, 5 de maio de 2024

Às vezes me pergunto quantos “lás” existem por aí... Amores não vividos, amigos não feitos, conhecimentos jamais aprendidos.

Em um dia não tão qualquer, após uma sequência de coincidências nada coincidentais, minha versão do passado deu o primeiro passo daquela encruzilhada. Agora aqui estou eu, olhando pela janela de um dos tantos “lás”.

E bom, tudo realmente estava lá. Ou melhor, aqui.


Última vez

A vida é uma sequência infinita de últimas vezes.

A última vez que fiz um café naquela xícara que quebrou ou que deitei naquela parte que bate sol às 15h da tarde de um domingo primaveril na minha sala. A última vez que abri aquele caderno esquecido, que comi aquele doce que pararam de vender, que usei aquela caneta que perdi. A última vez que ouvi aquela música, que dei um abraço naquela pessoa querida, que beijei o meu primeiro amor. A última vez que ouvi meu nome saindo dos seus lábios, a última vez que...

Sentada ao lado daquele forno, sentindo o calor do fogo em minhas mãos, eu não tinha noção do tamanho da preciosidade daquela cena. Me apego a lembranças por ser tudo o que me resta, mas e se um dia for a última vez que eu me lembrar delas?

Me apeguei a memórias de uma vida, sem imaginar que um dia seria a última vez que eu me lembraria delas. Se somos nossas lembranças e nossas vivências, o que nos tornamos quando elas nos abandonam?

Vai haver um dia em que talvez meu nome não soe familiar. Ainda serei eu?

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Uma lua de distância

Eu me lembro daquela noite em que a lua sorriu para mim. E hoje, ela aqui tão cheia, me lembra das minhas promessas passadas, de quando eu acreditava de forma ingênua no amor e no futuro.

Uma lua separava a gente, e hoje o que me separa do mundo é esse enorme peso de não sentir tanto assim. Ou sentir demais. Os dois ao mesmo tempo, sempre.

Hoje a lua me lembrou daquela noite em que eu acreditava fortemente em nós. Nos reflexos da água, um amor que nunca senti. E hoje me culpo por não estar lá, onde a lua estava na primeira vez que amei.

Lembro como se fosse ontem da noite em que a lua sorriu pra mim, cercada de estrelas como eu jamais havia visto.

A bebida desce amarga, com gosto de culpa, com gosto de desgosto, com gosto de “errei mais uma vez”. 

Todo mundo diz que qualquer coisa está ali, mas afinal, o que é qualquer coisa? Me sentir um peso só piora tudo. Eles dizem para eu pedir socorro, mas como gritar quando lhe falta voz? Eu já não sei mais fazer isso como antes, não me sinto mais íntima e amiga do pedaço de papel em branco, na verdade, sigo tendo medo, mas dessa vez avanço com desprezo por tudo aquilo que já passou.

Todo esse texto só faz sentido na minha cabeça. É um desabafo que absolutamente ninguém seria capaz de desvendar.

Eu quero colo. Eu quero solidão. Eu quero o extraordinário. Eu quero o pouco que me convém. Eu quero pedir socorro. Eu quero não fazer alarde. Eu quero que me entendam. Eu não quero me expor tanto assim.

A lua segue me encarando, como se estivesse conversando com versões antigas minhas, mas elas não existem mais e resta-me respondê-la com esse aglomerado de palavras que talvez só ela seja capaz de entender.

Afinal, aquele dia no carro, entre um sorriso e tantas estrelas, ela me disse que a vida valia a pena. E hoje, o mesmo rosto que sorriu junto atrás do vidro estático, mal consegue se manter em pé. O mesmo corpo que sentiu cada gota de esperança percorrendo o seu corpo, só consegue pensar em um possível fim.

Não queria tanto drama. No fundo, acredito que estou a uma lua de distância de mim.
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