Raphael Vicenzi |
Não me peçam sentido no que digo. Bagunça é meu estado de espírito, confusão é meu nome e caos meu sobrenome. Tenho mil lados e ao mesmo tempo nenhum. Minhas mil faces se aglomeram em um só desconcerto, um amontoado de eus, sem ordem definida e sem peças para se encaixarem. Sou palavras soltas, sou sentimentos avulsos, sou complicações simples, complexidade sem compreensão.
Não busquem encontrar clareza em mim, não esperem respostas. Sou a pergunta em si, sou a interrogação. Mas também sou vírgula, sou ponto e reticências. Sou aspas abertas, sou frase solta, sou livro sem final.
Sou o paradoxo, sou a contradição. O que eu era ontem já deixei de ser. Quem eu era um segundo atrás já não existe mais. Não fui eu quem começou esse texto, e não serei eu a encarregada de terminá-lo.
A crença no infinito, a desilusão. Concreto nada maciço, um dia nublado sem nuvens, uma noite ensolarada, arco íris sem pote de ouro no final. Labirinto sem saída, cofre sem cadeado e espelho sem reflexão. Sombra na escuridão. A próxima estação depois do ponto final.
Sou milhares de sonhos, sou o impulso, aquilo que fica entre o "deixa pra lá" e o "vou até o fim". Sou aquela que acredita mesmo sem acreditar.
Escrita invisível, feita pra ninguém ler, e ainda assim há quem tente.
Um dia você ainda encontrará sentido em mim, mas te garanto que não será agora. Espera eu me conhecer que já te explico. Ou tento. Mas não prometo. Prometer é coisa de gente certa de si e do futuro, mas o que é o amanhã senão uma sequência de consequências?
Ei, esse é meu ponto. Desculpa, tenho que descer e colocar logo um ponto final nessa tentativa frustrada de um texto. Qualquer dia me explico, talvez na próxima viagem de ônibus, tentando organizar meus pensamentos sem solução, enquanto admiro a paisagem sem conseguir de fato olhar para o que está lá fora. Maldita miopia.
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