Jenny Yu |
Te joguei fora pela janela na última rodovia. Você voou para
tão longe rodopiando pelo ar que nem deu tempo de despedir. Mas tudo bem, eu
não fazia a menor questão.
Restou-me minha metade da foto, uma garota de olhar vazio e
com os braços de uma pessoa inexistente em seus ombros. Uma mão que leva a
lugar algum.
Encaro esse deserto molhado enquanto umas gotas me escorrem
pelo rosto para se juntar à água que agora cobre meus pés. Miro no infinito
esperando uma resposta para uma pergunta que nem ao menos fiz.
Garoto, eu sinceramente não me importo. Não mais. Era uma
vez o tempo em que eu não pertencia a mim. Hoje, enquanto o sol descia pelo céu
e se juntava ao horizonte, percebi que não preciso de você. Alguém deveria ter
avisado isso para a minha eu de uns anos atrás, aquela que ouvia cada “você não
vale nada”, junto com um “mas eu te amo mesmo assim”, me fazendo sentir que
estava no único lugar onde eu seria aceita por ser essa bagunça. Na teoria, eu
tinha sorte em te ter, certo? Era um enorme favor que você fazia a humanidade.
Fecho os olhos enquanto deslizo meus dedos pelo meu corpo. Eu existo. Eu realmente existo sem você. Carne e osso, alma e matéria, cicatrizes e poesia.
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