segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A menina que passou dos 30

Essa noite a general desceu do seu posto, virou uma garotinha cheia de sonhos que chorou impiedosamente enquanto admirava a grande cidade iluminada que cabia na sua pequena janela. Coisas grandes sempre a assustaram, seja o horizonte infinito ou o amor.
Pobre coraçãozinho, tão pequeno para tanta dor. Aquele mundo era demais para ela. O medo invadiu seu quarto cor-de-rosa. A raiva da injustiça invadiu seu corpo. A revolta do seu amontoado de confusões invadiu o pouco de sanidade que lhe restava.
 A noite escura lá fora sussurrava aos sete ventos que a solidão é a maior companhia que alguém poderia ter. O vazio enche o copo, enche a alma, enche o peito. Esfriou. Na falta de um amontoado de panos para fugir, encolheu-se e rezou ao seu Deus. O tempo não passava. Ninguém a atendia lá fora. “Vai ver papai do céu está ocupado demais com pessoas importantes”. E nisso virou para o outro lado e rezou para a dona do seu destino, pediu que crescesse antes que fosse tarde. Já havia passado da hora de perceber que a vida esta por aí batendo porta na cara de quem tem medo de pular janelas. Levantou-se, olhou no espelho e viu uma mulher de farda com uma lágrima nos olhos. Se hoje veste essa armadura, é porque já se feriu demais. Despiu-se de todas as máscaras e restou sentimentos, que sem sustento algum, despencaram no chão do silencioso cômodo. O barulho dos anseios de uma criança perdida sendo estraçalhados em cacos era de ensurdecer os mais sãos dos seres. Implorava pelo colo de sua mãe todas as noites, sem sucesso. O mundo andava doloroso demais para ela enfrentar sozinha. Era apenas uma criança.

Um comentário:

  1. parabéns, gostei, texto mto bom, eu copiaria pra aula de filosofia

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