terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O limite

Sempre demarquei o meu limite com um “preciso escrever sobre isso”. E eis que depois de tempos retornei para as dolorosas folhas de papel. Dolorosas porque falam demais, ou talvez justamente o contrário, por me fazerem falar demais.
Sempre odiei terapia, sabe? Não lido bem com essa coisa de expressar sentimentos, ou transformar em palavras aquilo que quero, ao menos não através do som. Cada pingo de tinta nessa folha é um rendimento, é a salvação de todas essas coisas que ficaram aprisionadas aqui dentro por tanto tempo. Desde pequena, minha mão diz mais que minha boca. Meus velozes dedos se comunicam com o mundo antes mesmo que eu possa processar as informações. Só vou me deixando levar, deixando que as palavras me guiem até onde quero chegar. E onde quero chegar? No alívio. Na explosão dessa bomba relógio que habita dentro de mim. Palavras dizem muito mais do que parece. Uma palavra nunca é apenas uma palavra, uma frase nunca é apenas uma frase.
Uma correnteza invisível, que leva consigo todo esse peso que você andava carregando no braço, sem que ninguém visse. Cada texto que escrevo é um “sobrevivi até aqui, então sou capaz de suportar mais”. Você vê uma coletânea de textos aleatórios e fictícios, eu vejo uma biblioteca de sentimentos e lembranças, que me faz lembrar do quão forte sou por ter sobrevivido a cada história. Sou mera personagem dos meus próprios contos. Enquanto houver história, estarei de pé.


2 comentários:

  1. Engraçado como consigo me encaixar em várias coisas que você escreve, por mais que não tenhamos vivido a mesma coisa mas entendo seu texto. Uma vez minha mãe foi ler uma frase minha que ela ficou sem entender, mas era uma metáfora que só eu entendia, aliás, ainda entendo. Quando a gente põe algo numa folha ou num blog, só a gente sabe quanto sentimento tem naquilo e isso é muito mágico.

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