segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Entre paredes vazias

O cômodo não é novo, já estou aqui a algum tempo. Mas sempre esteve vazio assim? Eu verdadeiramente não sei dizer. Olhando agora, vejo o paradoxo de sentir que aqui já esteve cheio de móveis, luz e momentos, ao mesmo tempo que parece que sempre esteve assim e só agora parei para notar.

Lembrei que um dia o chão já rangeu. Não ouvi nada hoje. É difícil lembrar que algo existiu quando não acontece a tempos.

Era pra eu me sentir em casa em algum lugar? 

Sempre no meio termo, no meio do caminho, no meio do conflito. Uma vida morna por medo de lidar com os extremos.

A apatia dói mais do que a tristeza.

Por um momento desejei ter uma mãos nas minhas, mas me dei conta de que seria apenas um jeito fácil de depositar toda essa minha falta em alguém. Ao mesmo tempo que quero ouvir o som da campainha, não quero receber visitas.

Eu não tenho motivos para estar assim, mas dói. O nada dói, e muito.

Entre um verso e outro

Te vi. Você me viu. No escuro, nossos corações se sentiram.

Te puxei para dançar, e você entrou nessa comigo. Olhares intensos, sentimentos a mil. Com você o ritmo era leve, me senti viva como nunca. O salão ficou mais colorido, as luzes mais vivas, meu sorriso mais sincero e genuinamente feliz.

Mas você se foi antes da primeira música terminar, e me vi obrigada a reaprender a dançar sozinha enquanto a música ainda tocava ao fundo.

Os primeiros passos são sempre os mais dolorosos, eu sei. Aos poucos retomo o ritmo e relembro de como era um passado sem você. 

Eu não te culpo, e no fundo sei que era melhor assim. Mas ainda dói. 

O baile definitivamente não é o mesmo sem você, mas estou sobrevivendo. 

Saiba que te guardarei com carinho entre um verso e outro da canção. Guardei em mim o sentimento, e o toque das nossas mãos. 


Amanheceres

Enquanto eu olhava nos seus olhos, o sol se pôs milhares de vezes sem que eu pudesse notar. Eu amo o pôr do sol, já te disse isso? Mas sempre tenho medo do depois.

Irônico eu amar ver a luz ir embora, e ter tanto medo da escuridão. No fundo, acho que eu gosto do "quase". Aquele tom de verde quando os raios amarelos batem. Aquele sol que toca minha pele, mas não queima. Entre tantos anoiteceres, você foi meu "quase" preferido.

Na última noite, quando fui engolida pela escuridão, percebi que perdi minha luz por aí. Não sei exatamente onde, e nem quando. Talvez entre um pôr do sol e outro, talvez entre um "quase" e outro.

Essa tal jornada deveria ser sobre mim? Acabo de perceber que nunca assisti um pôr do sol sozinha, bom, ao menos não intencionalmente. 

Esse texto não é sobre você. Nunca foi. É sobre mim. Um lembrete para que eu comece a ver também os amanheceres.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Primeiro ato

Vejo seus olhos da multidão. Milhares de palavras se cruzam no silêncio. 

Apesar de toda essa plateia, aqui segue tendo só eu e você. 

Tal como facas afiadas, sua indiferença fere meu peito. Dilacera minha alma, minha autoestima e toda a certeza do que já fui um dia.

Graças a você, vermelho se tornou minha cor. Você disse que combina com meus olhos, e eu sorri, deixando de lado cada centímetro do meu corpo que latejava e implorava por socorro.

Diferente das outras vezes, dessa vez te vi além. Não sei dizer se doeu um pouco mais ou um pouco menos. Ver o todo às vezes é mais assustador do que se contentar com os detalhes. Eu gostava de inventar o resto, sabe? Criar mil juras que jamais saíram da sua boca. E que jamais irão sair.

Mesmo no escuro eu te vejo e sei que você me vê. Eu te sinto, mesmo não querendo sentir. 

Através do pequeno feixe de luz que atravessa teu casaco, te completo. Crio diálogos dentro da minha cabeça, e tal qual como todas às vezes em que discutimos, converso comigo mesma. Acho que nem conheço sua voz, mas saiba que inventei uma bem bonita para você. Na verdade, te inventei inteiro.

A cortina desce lentamente, enquanto me despeço de tudo aquilo que jurei ser um dia. Não sei quem sou sem você, mas talvez esteja na hora de descobrir.

Fim do primeiro ato.

Entrelaços

Cabem tantos mundos em um colchão... Conversas e silêncios, abraços e distâncias, dores e aconchego. Eu e você. Dois mundos tão distintos e singulares. Diferente do que dizem alguns contos sobre o amor, não nos tornamos um só. Se já somos inteiros, como poderíamos nos completar? E nisso, viramos dois mundos ainda maiores.

Seu braço transpassa meu corpo, seu corpo transpassa minha alma. Entrelaço-me em você.

domingo, 28 de agosto de 2022

Portas

Eu já conheço essa história, ou melhor dizendo, o final dela.

Tento culpar muitas coisas, e minha insegurança talvez seja a mais frequente delas. Mas como pode ser paranoia se eu sempre acerto o final?

Descartável. Nunca boa o suficiente. E eu nem sei o que seria ser suficiente, acho que nunca cheguei nessa etapa.

Uma hora você vai aparecer, e uma parte de mim irá se encher de esperança. “Dessa vez não será igual”, mas foi o que pensei na última.

Cansada de me abrir para logo depois fecharem a porta na minha cara, sem nem ao menos um adeus. O pior de tudo é que dessa vez não foi uma porta qualquer. Era uma que permaneceu fechada por tanto tempo que eu jamais pensei que veria ela novamente. E eu assumi os riscos, eu guardei meus medos passados, eu imaginei o outro lado. Enfrentei grandes fantasmas para dar um passo tão curto, e agora me pergunto se valeu a pena.

A cada vez que o ciclo recomeça eu me sinto tão idiota, tão inocente. Recomeçar se torna cada dia mais difícil. O medo é voraz e se alimenta de tudo que deu errado, e nisso cresce, dia após dia, aguardando o momento em que será guardado em um armário para eu recomeçar e voltar a acreditar. Ele sorrateiramente escapa, e volta como insegurança.  

Qual é o preço de tentar preencher o vazio a qualquer custo? Achei que já tinha passado dessa fase. E na verdade eu já nem sei mais identificar quando é real e quando é minha solidão falando mais alto. Esse meu sentimento é real? É o suficiente?

Ou melhor, algum dia eu serei o suficiente?

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Nostalgia


Nostalgia. Nos tal gia. Sf. Sentimento ligeiro de tristeza sentido por alguém, pela lembrança de eventos ou experiências vividas no passado; saudades ou tristeza por algo ou alguém que já não existe mais ou que já não possuímos mais.

Aquele antigo aperto no peito surgiu sem bater na porta, assim sem mais nem menos. Saudade? Ainda não sei ao certo se essa é a palavra.
Você já olhou para trás e se sentiu completamente perdida entre quem você era e quem você é hoje em dia? As vezes sinto como se as duas fossem uma só, outras vezes que nenhuma das duas existiram. E nessa crise de identidade, sigo relembrando cada passo, cada cheiro, cada pessoa. O peito aperta mais, uma lágrima atreve-se a cair.
Essa paisagem não me é tão estranha. Andando em círculos, retornei para o começo depois de tanto tempo. Isso é terrivelmente assustador.
Sua voz soa tão perto, seu rosto tão nítido, seu cheiro tão intenso e seu quarto tão sólido. Meu coração acelera. Nessa auto sabotagem me perco cada vez mais.
Estou no meio da estrada, de um lado meu passado vindo embriagado a toda velocidade, no outro meu presente, distraído e sem saber ao certo o que faz ali. Eu prevejo a batida, mas permaneço intacta. A tragédia é certa, mas meus pés não se movem. Talvez eu só esteja cansada de fugir tanto desse inevitável fim. Fecho os olhos, pressinto a dor, mas nem sinal dela. Abro os olhos e ali estão os dois, parados a poucos centímetros um do outro.
Essa é a minha deixa. Abraço meu passado, agradeço a ele no meio de um sussurro, e me despeço. Já passou da hora de deixa-lo ir de vez. 


domingo, 10 de setembro de 2017

O ciclo da vida moderna


Um café pra acordar
Um cigarro pra acalmar
Um chá pra emagrecer
Um doce pra sorrir
Uma bebida pra animar
Um remédio pra dormir
Um ciclo sem fim.


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