domingo, 10 de setembro de 2017

O ciclo da vida moderna


Um café pra acordar
Um cigarro pra acalmar
Um chá pra emagrecer
Um doce pra sorrir
Uma bebida pra animar
Um remédio pra dormir
Um ciclo sem fim.


domingo, 6 de agosto de 2017

Vaga definição

Raphael Vicenzi
Não me peçam sentido no que digo. Bagunça é meu estado de espírito, confusão é meu nome e caos meu sobrenome. Tenho mil lados e ao mesmo tempo nenhum. Minhas mil faces se aglomeram em um só desconcerto, um amontoado de eus, sem ordem definida e sem peças para se encaixarem. Sou palavras soltas, sou sentimentos avulsos, sou complicações simples, complexidade sem compreensão.
Não busquem encontrar clareza em mim, não esperem respostas. Sou a pergunta em si, sou a interrogação. Mas também sou vírgula, sou ponto e reticências. Sou aspas abertas, sou frase solta, sou livro sem final.
Sou o paradoxo, sou a contradição. O que eu era ontem já deixei de ser. Quem eu era um segundo atrás já não existe mais. Não fui eu quem começou esse texto, e não serei eu a encarregada de terminá-lo.
A crença no infinito, a desilusão. Concreto nada maciço, um dia nublado sem nuvens, uma noite ensolarada, arco íris sem pote de ouro no final. Labirinto sem saída, cofre sem cadeado e espelho sem reflexão. Sombra na escuridão. A próxima estação depois do ponto final.
Sou milhares de sonhos, sou o impulso, aquilo que fica entre o "deixa pra lá" e o "vou até o fim". Sou aquela que acredita mesmo sem acreditar.
Escrita invisível, feita pra ninguém ler, e ainda assim há quem tente.
Um dia você ainda encontrará sentido em mim, mas te garanto que não será agora. Espera eu me conhecer que já te explico. Ou tento. Mas não prometo. Prometer é coisa de gente certa de si e do futuro, mas o que é o amanhã senão uma sequência de consequências?
Ei, esse é meu ponto. Desculpa, tenho que descer e colocar logo um ponto final nessa tentativa frustrada de um texto. Qualquer dia me explico, talvez na próxima viagem de ônibus, tentando organizar meus pensamentos sem solução, enquanto admiro a paisagem sem conseguir de fato olhar para o que está lá fora. Maldita miopia.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Tempestades

Alguma vez já te disseram para ficar tranquila porque a tempestade iria passar? Pois bem, venho aqui te trazer duas notícias, umas boa e uma ruim. A boa? Ela realmente passará. A ruim? Ainda virão muitas outras. “Isso não soou nada confortante”, você deve ter pensado, e talvez essa não tenha sido a minha intenção, mas, no fundo, esse pensamento pode ser muito útil. Por mais devastadora que seja a chuva que está por vir, antes mesmo dela chegar você já sabe que um dia ela terá seu fim. Além disso, entre uma tormenta e outra, é possível fazermos ajustes internos para lidarmos melhor com os próximos aguaceiros, como tampar goteiras ou reforçar as estruturas, por exemplo.
Se você está no meio de um temporal agora, aguente firme só um pouquinho a mais, eu te juro que isso vai passar. E depois voltará, mas passará novamente... Em um grande ciclo eterno. 
Já odiei muitas as temporadas de chuva, sabe? E hoje eu as acolho de braços abertos, sabendo que são justamente elas que me engrandecem tanto. Todo jardim precisa de água, e te garanto que não é diferente com você. Todas essas flores que você carrega dentro de si precisam ser regadas às vezes, e te prometo de dedinho que elas sobreviverão a todas as futuras tempestades, e que sairão delas ainda mais fortes e saudáveis, prontas para as próximas que estão por vir.

sábado, 22 de abril de 2017

Longe demais

Jenny Yu
Oh querido, estou longe demais para me importar. Escuto um murmuro no meu ouvido, mas o vento grita mais alto. Cabelos soltos, sol no meu rosto e um imenso oceano logo na minha frente.
Te joguei fora pela janela na última rodovia. Você voou para tão longe rodopiando pelo ar que nem deu tempo de despedir. Mas tudo bem, eu não fazia a menor questão.
Restou-me minha metade da foto, uma garota de olhar vazio e com os braços de uma pessoa inexistente em seus ombros. Uma mão que leva a lugar algum. 
Encaro esse deserto molhado enquanto umas gotas me escorrem pelo rosto para se juntar à água que agora cobre meus pés. Miro no infinito esperando uma resposta para uma pergunta que nem ao menos fiz.
Garoto, eu sinceramente não me importo. Não mais. Era uma vez o tempo em que eu não pertencia a mim. Hoje, enquanto o sol descia pelo céu e se juntava ao horizonte, percebi que não preciso de você. Alguém deveria ter avisado isso para a minha eu de uns anos atrás, aquela que ouvia cada “você não vale nada”, junto com um “mas eu te amo mesmo assim”, me fazendo sentir que estava no único lugar onde eu seria aceita por ser essa bagunça. Na teoria, eu tinha sorte em te ter, certo? Era um enorme favor que você fazia a humanidade.
Fecho os olhos enquanto deslizo meus dedos pelo meu corpo. Eu existo. Eu realmente existo sem você. Carne e osso, alma e matéria, cicatrizes e poesia.

domingo, 26 de março de 2017

Espetáculo


Cortaram-se as cordas. A marionete despenca no chão oco de madeira causando um tremendo estrondo. Sem reação, a plateia admira o espetáculo sem saber que aquilo não fazia parte do roteiro. Aplaudem a perfeita encenação sem perceber que ela é real. Nada se move. O público aplaude a performance cada vez mais alto e mais forte.
 O tempo passa e o boneco continua sem se movimentar... Entediam-se. Vão embora. As luzes se apagam e a cortina logo se fecha. Fim do espetáculo.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O limite

Sempre demarquei o meu limite com um “preciso escrever sobre isso”. E eis que depois de tempos retornei para as dolorosas folhas de papel. Dolorosas porque falam demais, ou talvez justamente o contrário, por me fazerem falar demais.
Sempre odiei terapia, sabe? Não lido bem com essa coisa de expressar sentimentos, ou transformar em palavras aquilo que quero, ao menos não através do som. Cada pingo de tinta nessa folha é um rendimento, é a salvação de todas essas coisas que ficaram aprisionadas aqui dentro por tanto tempo. Desde pequena, minha mão diz mais que minha boca. Meus velozes dedos se comunicam com o mundo antes mesmo que eu possa processar as informações. Só vou me deixando levar, deixando que as palavras me guiem até onde quero chegar. E onde quero chegar? No alívio. Na explosão dessa bomba relógio que habita dentro de mim. Palavras dizem muito mais do que parece. Uma palavra nunca é apenas uma palavra, uma frase nunca é apenas uma frase.
Uma correnteza invisível, que leva consigo todo esse peso que você andava carregando no braço, sem que ninguém visse. Cada texto que escrevo é um “sobrevivi até aqui, então sou capaz de suportar mais”. Você vê uma coletânea de textos aleatórios e fictícios, eu vejo uma biblioteca de sentimentos e lembranças, que me faz lembrar do quão forte sou por ter sobrevivido a cada história. Sou mera personagem dos meus próprios contos. Enquanto houver história, estarei de pé.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Bala perdida


Encontrei a bala perdida
Na boca no inocente
Na cabeça do neguinho
No peito do viado

Encontrei a bala perdida
No beco sem saída
Na esquina da favela
Na casa da dona Maria

Encontrei a bala perdida
Na mão da opressão
Nos braços da mídia
Na cabeça dos ofensivos

Bala perdida ou bala escondida?
Embaixo dos panos
Embaixo do sangue
Embaixo da constituição

Bala que barra a luta
Bala que mata a alma
Bala que aponta os finos dedos e escolhe quem nasceu para morrer

Bala que sai sem querer
Mesmo querendo tanto


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Inatingível

Desenho por: agnes-cecile

Essa é uma daquelas cartas que nunca chegará nas mãos do destinatário, que escrevo apenas pra tentar acabar com esse sentimento de não ter finalizado uma parte do passado, tentando acabar de vez com essa pendência, esse fio que ainda me remete sempre a você.
Sabe quando você olha para alguém e logo de cara se sente conectada a ela? Foi exatamente o que senti. Seu sorriso me atravessou de um jeito que até hoje lembro daquele momento como se tivesse um holofote sobre você.
Eu nunca te amei, e ainda assim você insiste em aparecer na minha mente vez ou outra e até mesmo nos meus sonhos? Isso não faz o menor sentido. E foi assim que cheguei a conclusão de que o que eu precisava para te deixar para trás de vez era escrever sobre isso.
Pessoas enigmáticas e problemáticas sempre me despertaram uma certa curiosidade. Você era tantos e ao mesmo tempo nenhum. As vezes juro pra mim mesma que você nem existe, não é possível alguém ser tão impenetrável quanto você.
Nunca consegui ver nada além da sua primeira camada, aquela cheia das mentiras que você sempre usou para se cobrir. Eu sempre tentei ver o que tinha atrás dos seus olhos sem vida, e não via nada além de várias personalidades que se revezavam vez ou outra. Eu nunca sabia com qual delas estava lidando, sabe?
Nesse momento estou te abraçando mentalmente, e desejando que você um dia se encontre aí dentro de si. Não deixe essa escuridão interna tomar conta de você... Te garanto que você é muito mais do que isso que tenta mostrar ao mundo.
Faço questão de congelar você em minha mente apenas como aquele cara do sorriso verdadeiro e sincero do primeiro dia que te vi. Se cuida, ta?
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