segunda-feira, 27 de julho de 2015

Na próxima vez, apague as luzes

Você é tão... “sei lá”. Sim, “sei lá” é a definição perfeita. Cheguei a conclusão de que nunca consigo escrever sobre você. Nunca sai meia palavra que faça sentido, assim como tudo isso que sinto.
Você esqueceu a luz acesa quando saiu. Você acendeu-a e simplesmente se foi. Levou consigo a chave e me deixou aqui: trancada eternamente no passado. Malditas luzes que não me deixam dormir, malditas luzes que sempre me dão esperanças de que um dia você virá, nem que seja para apagá-las.
Na próxima vez que sair, faça um escândalo, quebre tudo, faça-me te odiar. Mas por favor, nunca saia dizendo um “a gente se vê” se não  for retornar para pegar as palavras que você deixou cair.  Nunca saia dizendo “se cuida”, sabendo que no fundo preciso de você aqui para não surtar. Nunca saia deixando seu cheiro na casa, se você não faz ideia do quão perturbador é senti-lo todas as noites enquanto imploro aos céus para não sonhar com você novamente.
A última vez que te vi, você estava na contramão. Ou talvez você estivesse no caminho certo e eu fosse a errada da história. Enfim, te vi abraçado com ela. E aquilo doeu de uma forma estranha. Sua felicidade é a minha felicidade da forma mais torturante possível. Sempre torci para você estar com quem quisesse, no entanto implorando que fosse comigo, por mais que eu tivesse certeza do quanto isso é matematicamente impossível.
Meu ônibus seguiu em frente, mas eu não, e o último segundo que te vi foi o segundo mais longo de toda a minha vida. Passou por minha cabeça todas as coisas que eu poderia ter dito, todas as vezes que tive chance de abrir o jogo, de mudar toda a história... E então te perdi de vista. Para sempre.

sábado, 18 de julho de 2015

Tempo é dinheiro

Ô doutor, coloca anúncio no jornal anunciando o melhor trabalho do mundo. Quem não sonha em trabalhar nesse paraíso? Não falei que anunciar daria certo? Olha o tamanho dessa fila, doutor! 
Ta vendo aquela negra ali? Fala que ela leu errado, tem entrevista nenhuma aqui não. Aposto que roubaria ate minha caneta se essa neguinha entrasse no escritório. O loirinho? Pode entrar, claro. É jovem,bonito e forte? Então está contratado! Nunca se sabe quando esses quesitos serão úteis. 
Por que esse jumento não começou a trabalhar ainda? Tá achando muito trabalhar 16 horas por dia acredita? Bota esse vagabundo pra trabalhar em casa, faz nada aqui mesmo! O que ele teria mais importante pra fazer nas 8 horas do dia que ele não esta aqui? Nada é mais importante que a economia. Não trabalham e depois reclamam do preço do tomate. Não trabalham para ganhar seus 10 centavos por hora e ficam aí choramingando com vizinho no supermercado. Tempo é dinheiro, vejam só! Uma balinha por hora não é demais? Bom que com bala na boca não temos que servir almoço. Aquela sopa de água realmente estava nos saindo muito caro. 
Como assim ele só trabalha 16 horas? Já passou da hora de passar isso pra 20! Ih patrão, só restaram 4 horas pro bicho dormir. Coloca ele pra dormir aqui que é melhor pro coitado, vai poder descansar um bocado. Pensando bem, dormir pra que? Já que ele está aqui coloca esse mula pra trabalhar. Esse povo de hoje em dia é tudo folgado, não pode ver tempinho livre que montam na gente. Acham que a gente é burro. Por isso que o país esta desse jeito, povo preguiçoso. Tempo é dinheiro.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Dias cinzas


Por que só está chovendo em mim? Minhas lágrimas perdem-se na tempestade cotidiana. Malditos dias cinzas! Isso deveria doer tanto assim?
Sinto saudades da luz do sol, anda tudo tão frio aqui dentro. Por que todos riem de mim? Minha desgraça é tão desajeitada assim? Quero caminhar junto a eles. Quero enxergar as cores que tanto comentam. Por que não vejo?
Entre uma tempestade e outra, dá para ver um pedaço do céu azul. Ele é tão lindo! Logo o tempo se fecha novamente. É insano.
Tudo está tão bem... Até que troveja. Logo depois vem um raio. Um pingo de chuva, outro, e outro... Até que uma hora, o céu desmorona sobre mim.
Afogo todo santo dia nas mesmas águas. Sou levada por pesadas correntezas para lugares que não quero ver. Não consigo me mover. É como se eu tivesse esquecido como se nada, ou talvez apenas desistido de remar. Tá doendo muito. Está voltando tudo. Estou sangrando sentimentos que não sei descrever. Nem sabia que era capaz de sentir isso.
Não quero sair de debaixo das cobertas, por favor, me deixe aqui. Um dia o despertador tocará e serei obrigada a ir perambulando no modo automático para fazer algo que não estou com a mínima vontade. Enquanto isso, me deixe aqui, por favor.  Um dia tudo isso passará, eu prometo, eu espero, mas enquanto isso me deixe aqui.
É como se eu cultivasse isso aqui dentro. Como se cuidasse desse terrível monstro apenas porque a companhia dele diminui a minha solidão. E vamos confessar que não é a melhor das companhias, mas sei lá, acho que é questão de aceitação. Já o aceitei do meu lado. Às vezes ele me abandona, como qualquer ser normal e em sã consciência que viva do meu lado, mas diferente de todos, ele volta. Volta para preencher a saudade que sinto de quanto as coisas não eram tão vazias aqui dentro. De quando eu ainda via a luz no fim do túnel. Acho que deixei o meu futuro no passado. Simplesmente esqueci-o para trás.
Quando olho para o futuro, vejo meu presente. Minha vida é um eterno replay de clichês e esperanças. Sonhos que não passam de histórias que me conto antes de dormir para não ter pesadelos. Mas o que fazer quando até seus mais coloridos sonhos andam perdendo as cores?
Deixo que a caneta leve minhas mãos, e sai tudo isso: vômitos repletos de restos de palavras que ficam amontoadas no estômago, causando enjoos e reviravoltas mais a cada dia. O próximo estágio dessa doença é o coração. Ouvi dizer que as palavras ditas e não ditas amontoam-se na biblioteca de pretéritos imperfeitos. Lá ficam até serem descobertas ou irem para o lixo. A fase terminal de todo esse mal se encontra no peito. As palavras vão se acumulando pouco a pouco no meu pulmão, dificultando minha respiração mais a cada dia. Já posso senti-las pesar.
Meu remédio? A água salgada que percorre todo meu rosto até me esvaziar por completa. O efeito colateral? A dor. 
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