quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Incessante vazio


No reflexo dos meus olhos vejo uma estranha. Não faço ideia de quem sou, o que quero ou quem. Fecho os olhos e vejo um vazio tão profundo que me afoguei no nada. É assustador.
Não quero nenhuma pessoa por perto, inclusive eu. Tentei conversar comigo mesma e desisti. Sou tão confusa que passo longe de me entender. 
Quando minha mãe me dizia que eu não deveria conversar com estranhos, eu estava no meio? O vazio ultrapassou as barreiras do meu corpo e invadiu minha vida por completo. Só queria que isso acabasse. Queria fechar os olhos e enxergar algo além do eterno branco que me persegue. 
Tentei chorar e não saiu uma lágrima sequer. A angústia me consumiu,juntamente com a culpa por ser eu. Meu coração dispara em câmera lenta. Tornei-me pedra. Meu coração congelou. Minha alma me abandonou. Minha razão fugiu. Só restou-me a dor. A dor de não sentir um pingo de felicidade percorrendo minhas artérias. 
Meu vocabulário esgotou-se junto com a minha sanidade. Sou peixe querendo se afogar. Trem fora do trilho. Borboleta que não sabe voar.
Pobre borboleta, presa em seu casulo. O casulo que ela mesma construiu. Escutando o mundo acontecendo lá fora sem conseguir sair dali,muito menos ver algo além da escuridão que a envolve. Ouvi dizer que ela tem medo do escuro. Suas inúteis asas morrerão sem terem sentido. 
Minha cabeça doí, meu corpo estremece. Desmorono como minha vida. Prédios sem base desabam e castelos de areia sempre são levados pela água. Não dá pra lutar com a gravidade da vida, não há conserto para o que foi feito para cair. Não passo de tijolo sob tijolo. Nada que sustente. Um sopro e já era, não restará pedra sob pedra.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Caso perdido

Apenas mais um caso perdido? Sim, posso até ser. Sou apenas mais uma perdida nesse mundo mesmo. Caso irreparável, daqueles sem solução. E sabe qual é a melhor parte de “ser perdida”? Essa é a minha chance de aproveitar cada estrada que surgir na minha frente. Não me importa o destino final, quero apenas curtir o caminho.
Ando vivendo um pouco de tudo, fazendo coisas que sempre sonhei e outras que nunca me imaginei fazendo. Coisas que amo e coisas que odeio. Me descobrindo pouco a pouco, e não me arrependo nem um pouco.
É garoto,eu realmente não tenho solução. Mas quem disse que quero uma? Qualquer dia me encontro por aí. Por enquanto ainda estou procurando, e ouvi dizer que a melhor parte é justamente a procura, pois é quando nos abrimos para as oportunidades da vida, sem receios e preocupações.
Sempre fui apontada como a errada, a problemática, a louca... Com o tempo fui acreditando. E assim aprendi a me julgar mais que qualquer outra pessoa. Virei especialista nisso, tenho que admitir. Me amar? Nossa, que absurdo! Logo eu, essa garota tão confusa e sem sentido. A estranha que não se encaixa em lugar nenhum.
Passei uma vida inteira escutando que eu não cabia em nenhum quebra cabeça, e só hoje me perguntei se eu realmente quero caber.  Pela primeira vez eu me vi além de todos os defeitos que coloquei na minha frente. E foi aí que me vi de verdade. A garota que ainda não faz a menor ideia de quem é, mas que se orgulha de cada passo que já deu, de cada besteira que já vez, e de cada partezinha de si.
Quer saber de uma coisa? Não tenho conserto mesmo... Ainda bem!


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Uma madrugada qualquer


Toda madrugada é a mesma coisa. A saudade aperta. A vontade de falar o que não devo vem à tona. O peito pesa. Os olhos inundam.
A loucura esmurra minha porta, finjo que não estou. Trinta anos nas costas e tudo ainda continua a mesma coisa. Eu realmente acreditava que tudo iria melhorar. 
Entrei nessa corrida guiada pela esperança, e ainda estou aguardando o prêmio final. Isso poderia ter acabado anos atrás, em outra madrugada qualquer, no entanto eu insisti. Por medo. Por esperança. Por covardia.
No parapeito da janela, tudo é tão mais lindo. Ver que o mundo gira sem você, que as pessoas continuam passando desesperadas de um lado para o outro, para fazer suas coisas que pedem pressa. E ninguém olha para cima. Ninguém lê meu pedido de socorro.
Quinze anos se passam e a mesma cena se repete. No entanto agora já cheguei ao fim desse livro, e descobri que a mocinha morre no final. Bem clichê.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Últimas palavras


Decisiva, fatal, imutável, definitiva. A pior última vez sem dúvidas é aquela que vem sem aviso prévio. Nada de preparações, despedidas, últimas palavras. Seja o último beijo, o último abraço, a última conversa, ou até mesmo o último adeus. Naquele momento não havia plaquinhas dizendo “aproveite isso agora pois não irá se repetir”, e mesmo se tivesse, talvez não fosse de tamanha utilidade. Talvez é assim porque simplesmente é melhor assim.
Não sei você, mas eu honestamente não gostaria de saber o dia da minha morte, por exemplo. Cada segundo se tornaria insuportável, e a angústia da espera certamente me mataria antes. Saber que aquele tchau desengonçado e frio foi a última vez que viu alguém também pode não ser uma das melhores coisas...
A verdade é que todo mundo sempre tem aquelas palavras que ficaram presas na garganta, aqueles lindos discursos que gostariam de ter falado, ou até mesmo um simples “eu te amo”. Mas vai por mim, seria muito mais doloroso. Saber que aquele momento é o último, seja do que for, não nos deixaria aproveitá-lo como ele merece. Ele merece ser mais um momento normal, com todas as suas finitudes e infinitudes possíveis, sem lágrimas, sem apertos, sem saudade antecipada.
A vida é assim, uma eterna caminhada no escuro. O que podemos fazer? Aceitar o fato e aproveitar o máximo possível de cada segundo.
Diga tudo o que tem para dizer. Guardar palavras para quê? Palavras esquecidas na garganta só servem para se acumularem e virarem nós.
Então vai em frente, diga ao vizinho que o novo corte de cabelo dele ficou lindo, abrace seu cachorro, diga ao porteiro que ele é muito gentil, diga ao padeiro que o pão dele é o melhor do universo, apareça de surpresa na casa de quem ama, se declare para o mundo... Vai, aproveita, últimas vezes acontecem todo o tempo.  Nunca se sabe o que virá pela frente, ou até mesmo quais serão os últimos passos e as últimas palavras. As minhas podem ser essas. 
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