Ele consegue me fazer sentir tudo e nada no mesmo dia. Basta ele aparecer que até mesmo o mais brilhante dos sorrisos me escapa do rosto. Ele me faz sentir fraca, um lixo, o ser mais insignificante da face da terra. Ele me faz revirar na cama, me traz cicatrizes por dentro e por fora, me faz voltar no passado e sentir medo do futuro. Esse monstro é sorrateiro, e são poucos os que já me viram ao lado dele. Ele tem dessas coisas, aparecer quando estou completamente sozinha, pra me mostrar através da escuridão do meu quarto todos os vazios da minha vida. Ele consegue ser bem cruel quando quer, e vive me dizendo que eu não tenho mais o que fazer por aqui. Esse monstro sabe apontar friamente para cada dor minha.
As pessoas que perdi pelo caminho juntam-se a ele para me fazer duvidar das que ainda permanecem do meu lado. E nisso, ele revira minha mente, me faz acreditar que enlouqueci, me faz dizer coisas da qual tenho certeza que irei me arrepender depois, e me tira todo o controle do meu próprio corpo. Esse monstro as vezes some, e quando penso que estou livre, eis que ele ressurge ainda maior. Um dia ainda irei me cansar de toda essa batalha, ou apenas não suportar mais. Um dia ele será maior que eu e me consumirá por inteira. Mas ele não gosta disso. Tortura é a sua especialidade. Por que dar o seu pior de uma só vez quando pode ir fazendo alguém surtar aos poucos? E nisso ele é muito bom, preciso confessar.
Querido monstro, eu me rendo. E eis que essa folha de papel é minha bandeira branca.