quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pegando carona com a saudade


Convenhamos que não conheço um lugar com tantos cheiros diferentes como um ônibus. Batatas fritas, perfumes dos mais suaves aos mais fortes, cachorro quente, chocolate, salgadinhos... Os mesmos de sempre. Entretanto, dia desses me surpreendi quando sentou do meu lado uma moça com nada mais nada menos que cheiro de infância. Não era cheiro de colônia de bebê, caso seja isso que você esteja imaginando. A moça tinha cheiro de bala. Mas não era de qualquer bala. Não mesmo!
Era o cheiro dos meus dias mais felizes quando criança.
Lembro-me de quando papai me levava à cidade grande como se fosse ontem. A viagem era longa e cansativa, e ele sempre comprava uma bala (que infelizmente esqueci o nome) e uma revistinha em quadrinhos. Eu me sentia a criança mais feliz do mundo enquanto desfrutava de um dos meus primórdios contatos com a literatura e colocava as balas na boca em um (quase sagrado) ritual. Mastigar nem pensar! Engolir ou colocar mais de uma na boca então nem se fala!
E de bala em bala, o tempo ia passando. Talvez seja por isso que hoje eu não resista ficar sem mastigar alguma bala. Sem perceber associei-a com o tempo. E tenho pressa. Todos tem.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Bagunça


Tivemos tantos fins e ao mesmo tempo nenhum. Irônico, não é? Mas combina bastante com nossa história. Confusão e mais confusão define bem nossos corações, e quando duas bagunças se juntam, na certa não surgirá nada além de uma bagunça maior ainda. Montes de frases não faladas e receios foram ficando acumulados no canto da sala. Quantas vezes batemos a porta na cara do outro? Quantas vezes fugimos pela porta dos fundos? Quantas vezes pulamos a janela? Sinceramente perdi a conta. Mas a quem queremos enganar? Somos amantes da bagunça, e logo mergulhávamos um no outro novamente.
Sabe, meu amor, não te julgo por não ter se despedido. Ainda me lembro daquela tarde em que ambos fugimos de fininho, com medo de dizer adeus. Tentamos entrar novamente mas era tarde demais. A bagunça havia tomado conta do lugar de tal maneira que não mais nos cabia ali.
Confesso que as vezes ainda ouso espiar pela janela, na intima esperança de um dia encontrar tudo como estava quando chegamos. Mas se nossa bagunça só cresce a cada dia, por que dessa vez seria diferente?
O passado está a ponto de transbordar pelo vidro quebrado. Não quero estar aqui quando isso acontecer. Por isso fujo. Para longe. Bem longe. Mas no fim, acabo correndo de mim mesma. Sou a bagunça. Não há prateleiras ou caixas que me ajeitem. Serei uma eterna bagunça. 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...