segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Primeiro ato

Vejo seus olhos da multidão. Milhares de palavras se cruzam no silêncio. 

Apesar de toda essa plateia, aqui segue tendo só eu e você. 

Tal como facas afiadas, sua indiferença fere meu peito. Dilacera minha alma, minha autoestima e toda a certeza do que já fui um dia.

Graças a você, vermelho se tornou minha cor. Você disse que combina com meus olhos, e eu sorri, deixando de lado cada centímetro do meu corpo que latejava e implorava por socorro.

Diferente das outras vezes, dessa vez te vi além. Não sei dizer se doeu um pouco mais ou um pouco menos. Ver o todo às vezes é mais assustador do que se contentar com os detalhes. Eu gostava de inventar o resto, sabe? Criar mil juras que jamais saíram da sua boca. E que jamais irão sair.

Mesmo no escuro eu te vejo e sei que você me vê. Eu te sinto, mesmo não querendo sentir. 

Através do pequeno feixe de luz que atravessa teu casaco, te completo. Crio diálogos dentro da minha cabeça, e tal qual como todas às vezes em que discutimos, converso comigo mesma. Acho que nem conheço sua voz, mas saiba que inventei uma bem bonita para você. Na verdade, te inventei inteiro.

A cortina desce lentamente, enquanto me despeço de tudo aquilo que jurei ser um dia. Não sei quem sou sem você, mas talvez esteja na hora de descobrir.

Fim do primeiro ato.

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