segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Uma passagem para o amanhã

 - Moça, poderia me arrumar um copo d'água? - Foi tudo o que conseguiu dizer.
Lentamente, o avião começou a se mover. Um enorme nó se estabeleceu em sua garganta.
Será que ele estaria entre aquelas milhares de cabeças comprimidas no vidro do aeroporto? Pouco provável. E talvez fosse melhor assim.
Aquele beijo da noite passada já havia sido doloroso o suficiente. Ah, aquele beijo! Ela faria de tudo para sentir o calor daquele corpo junto ao seu novamente. Mas não podia.
Uma lágrima com gosto de angústia veio seguido por uma repleta de medo. Pela janela, ela pôde ver a cidade se afastando até se transformar em um minusculo pontinho.
Seria tarde demais para desistir? Pedir o piloto para parar que ela desceria ali mesmo? Sim, era tarde demais.
Pegou uma pequena foto em sua mochila e a encarou por alguns minutos. Ali estava aquele que a fez acreditar que não havia problemas em sonhar alto. Quanta ironia! Eram justamente os seus sonhos que a estavam levando para milhares de quilômetros do pouco que ela possuía.
Abraçou a fotografia bem forte, porém com um cuidado imenso para não amassar, e permaneceu assim por um bom tempo, até que finalmente voltou a realidade:
- A senhorita prefere a água quente ou gelada?
Por que todos lhe exigiam respostas? Como se já não bastassem as perguntas que ocupavam sua mente!
Respirou fundo, trocou a água por um café e afundou a cabeça em sua poltrona, sem tirar os olhos um minuto sequer das enormes nuvens que ocupavam sua janela. 

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