sábado, 31 de maio de 2014

Marés


O mundo se embaça. O coração aperta. E lá vai ela descendo, congelantemente quente, rosto a fora. Sorrateira, da forma mais violenta que poderia ser, estremecendo cada parte do corpo, inundando cada parte do peito. Ela em si não dói, mas traz a tona as mais temíveis profundezas de nossos mares, que deixamos acumular no dia-a-dia, com medo de encarar ou jogar fora de vez. Daí guardamos na esperança de tudo sumir como um passe de mágica. Não some. Chega um dia que simplesmente não dá mais. E transborda. Transborda muito.

Marés cheias fazem parte das fases da lua, fazem parte de nossas fases, fazem parte da vida. Afogamos as mágoas para não morremos sufocados. Inundamos o mundo para nos esvaziarmos, e depois, claro, encher tudo de novo. Gota por gota, dia após dia. 

2 comentários:

  1. Como não amar, Alice?
    Seus textos são tão singelos e verdadeiros! ♥

    Love, Nina.
    ninaeuma.blogspot.com

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...