sábado, 27 de junho de 2015

O inimigo

Perdi a fé naquele dia cinza em que o primeiro canhão explodiu. Era madrugada, levantei assustada,  e quando olhei para o lado tudo já havia se desmoronado. Tarde demais, sou apenas mais um soldado perdido em campo de batalha, segurando a prova do crime que cometo contra mim mesmo. As frias balas atravessam-me o peito, mas nada acontece. Ainda não fui derrotada. Ainda. 
Temo que esse seja meu último sussurro. Uma dor efêmera que possui o amargo gosto da derrota, com pegajosos sofrimentos que escorrem-me pela boca.
É o fim, agora eu sinto. Mas não me rendo. Queimei minha bandeira branca em tempos difíceis, nos quais precisava das chamas para sobreviver. 
Lutei uma eternidade contra um inimigo que sempre habitou meu espelho. Seus pontos fracos não passam de singelas gotas de papel. Travei uma batalha a punho contra mim mesma. Meu campo de batalha pulsa sangue, minha trincheira não passa de um amontoados de panos largados na cama. Ele está aqui dentro, guerreando entre minhas veias, dores, pulsações. Sou o inimigo.
Guerreando contra meu próprio caos, desfaleço descalça. Quem virá buscar meus sapatos? Minhas gastas solas não servem para meio passo.

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