quinta-feira, 5 de julho de 2012

Uma carta sem destinatário


Tenho certeza de que essa carta passará longe de ser comum. Se é que posso chamar isso de carta, já que se trata apenas de um grande desabafo que eu nem sei se terei coragem de te enviar um dia.
Mas uma coisa é certa: Se você está lendo isso, ou foi porque não aguentei mais guardar todas essas palavras amareladas pelo tempo comigo, ou foi apenas um impulso em que pensei que talvez assim você ao menos me entenderia.
Não sei dizer exatamente quando ''isso'' começou. E quando digo ''isso'', me refiro à essa coisa que sinto. Amor? Pode até ser.
Quando dei por mim, cada bom dia, mensagem, abraço, palavra ou gesto seu me deixava com um enorme sorriso bobo no rosto. Todas as músicas de amor passaram a fazer sentido, e fechar os olhos e você não me vir a mente se tornou algo impossível. Horas te abraçando pareciam insuficientes, e bem, beijos na bochecha deixaram de me contentar.
Horas, dias, meses ou até mesmo anos se passaram, e eis que um dia, quando eu já havia desistido de ter seu sobrenome após o meu, percebo que poucos centímetros e um terrível medo nos separava.
- Qual é o problema?
- Tenho medo. - Respondi na ânsia de ter que completar essa frase.
- De quê?
Parecia uma enorme ironia do destino. Respirei fundo, olhei para baixo e tentei esconder uma lágrima que lutava em cair.
- Tenho medo de me machucar. - Senti uma vontade tremenda de emendar com um enorme ''Eu sei que você ainda a ama. Por que está fazendo isso comigo? Quem queremos enganar? Eu quero isso. E muito. Mas está na cara que um de nós irá sair mal nisso tudo, e só para te adiantar o final dessa história, lhe digo que esse alguém será eu.'' Mas não! Eu apenas fechei os olhos...
Eu sabia que aquilo havia sido um erro, ou melhor, minha parte sã sabia disso. Enquanto isso, meu coração sorria e cantava alegremente como uma criancinha que acabou de descobrir um enorme pote de doces escondido atrás do armário.
Se hoje fecho os olhos, tudo o que me vem a mente é aquele dia. Suspiro. Choro. Grito. Sinto vontade de voltar atrás e me acordar a tempo. Ter tirado aquele sorriso do meu rosto antes seria uma ótima forma de acabar com parte desse sofrimento que hoje me atormenta.
Sinto raiva de mim mesma por ter sido tão idiota, e acima de tudo, por depois de tudo isso, ter a certeza que faria tudo da mesma maneira.
Um bom tempo se passou, e infelizmente você ainda é o único. O único que me fez derramar tantas lágrimas, que ocupou tanto espaço na minha cabeça e no meu coração, e acima de tudo, o único que realmente amei.
Já tentei diversas receitas para te esquecer, porém para a minha infelicidade, posso citar cada plano e suas falhas: Já tentei me afastar, mas quem disse que eu aguentava saber que você estava lá, mas eu não podia te abraçar e te encher dos meus beijos e palavras carentes? Também já tentei te odiar, e admito que deu certo por um tempo, mas no fundo, eu sabia que aquele ódio era apenas um excesso de amor não correspondido. E por último, e entre todas o mais útil e ao mesmo tempo o mais inútil dos planos foi me livrar de todas as suas lembranças. Joguei fora cada carta ou tranqueira sua e retirei sua fotografia do meu criado mudo. Mas quem disse que adiantou alguma coisa? As maiores lembranças estão em meu peito, e essas, eu não posso amassar, rasgar ou simplesmente jogar no lixo.
E depois de todas essas palavras, sabe o que é mais inacreditável em tudo isso? Eu amava a pessoa que você era, ou talvez que foi apenas em minha mente, e sempre acabo me decepcionando em saber que esse alguém para quem escrevi todas essas palavras, habita apenas o meu iludido e sonhador coração.

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